Geração Z enfrenta desafios no mercado de trabalho
A inserção da Geração Z no mercado de trabalho, tanto no Brasil quanto internacionalmente, revela um cenário de desafios e mudanças. A dificuldade em conseguir e manter um emprego é um tema recorrente, especialmente entre jovens de 18 a 24 anos. Recentemente, a porcentagem de jovens que levam mais de um ano para encontrar emprego triplicou no Brasil em comparação com o final de 2022, refletindo um mercado que, mesmo em crescimento, não acompanha as expectativas e necessidades dessa nova geração. Nos Estados Unidos, jovens como Kirsten Staple e Jonathon Courtney enfrentam desafios similares, aplicando-se a centenas de vagas e ainda assim permanecendo desempregados. Este fenômeno reflete mais do que uma falta de oportunidades; ele indica uma incompatibilidade entre os valores da Geração Z e as práticas do mercado tradicional.
A Geração Z cresceu em um ambiente digitalizado, com acesso fácil à informação e maior agilidade em todas as suas interações, o que gerou expectativas distintas em relação ao mercado de trabalho. Muitos desses jovens buscam flexibilidade, oportunidades de desenvolvimento e um propósito claro no trabalho, que se conecte com seus valores pessoais. Uma pesquisa da Intelligent.com mostrou que 6 em cada 10 empresas nos EUA demitiram jovens recém-contratados dessa geração logo nos primeiros meses. Os principais motivos apontados pelos empregadores incluem a falta de ética de trabalho, uma comunicação inadequada e a resistência a receber feedbacks, além da sensação de que esses jovens têm pouca resiliência para enfrentar ambientes corporativos tradicionais. No Brasil, a dificuldade é intensificada pela instabilidade econômica e uma recuperação lenta, que tornam as empresas ainda mais cautelosas em suas contratações.
Essa situação cria um impacto significativo tanto para as empresas quanto para os jovens. Ao enfrentar retrocessos na carreira logo no início, esses trabalhadores correm o risco de sofrer perdas duradouras, não apenas em termos de ganhos financeiros, mas também de oportunidades de aprendizado e networking, fatores essenciais para o desenvolvimento profissional. Daniel Zhao, economista-chefe do Glassdoor, explica que os primeiros anos após a escola são cruciais para a formação de um jovem trabalhador, e o fracasso em encontrar estabilidade nesse período pode limitar seu crescimento a longo prazo.
Para as empresas, a rotatividade entre os profissionais da Geração Z representa um custo adicional em termos de recrutamento e treinamento. No entanto, o simples ato de ignorar ou demitir esses profissionais pode não ser a solução ideal, especialmente porque a Geração Z deverá representar cerca de 25% da força de trabalho mundial até 2025, segundo a consultoria McKinsey. Empresas que desejam se adaptar a essa nova geração precisarão rever suas abordagens de trabalho e gestão, promovendo ambientes que valorizem a flexibilidade, o feedback constante, o desenvolvimento pessoal e um propósito claro. Como destaca Mara Turolla, líder de diversidade e inclusão da consultoria LHH, esse esforço precisa partir de ambos os lados – as empresas devem estar dispostas a flexibilizar algumas estruturas, enquanto os jovens precisam desenvolver habilidades de adaptação e resiliência para atuar em contextos mais tradicionais.
A quebra de expectativas também afeta a saúde mental dos jovens. O caso de Catherine Dugoni, 26 anos, que foi demitida de seu emprego em relações públicas e desde então não conseguiu recolocação, é um exemplo comum. Como muitos de sua geração, ela retornou para a casa dos pais e vive os desafios de se candidatar a empregos e fazer entrevistas sem garantias de retorno. A situação gera uma sensação de desânimo e de “estar ficando para trás”, o que é frequente entre jovens da Geração Z.
Os especialistas concordam que o caminho para uma adaptação mais harmoniosa entre a Geração Z e o mercado de trabalho envolve mudanças estruturais. Aline Riccio, diretora sênior da Korn Ferry, ressalta que é essencial integrar essa geração, adaptando as práticas corporativas para criar ambientes mais inclusivos, que valorizem a diversidade e promovam o desenvolvimento de carreira com propósito. Estratégias como flexibilização da jornada, incentivo a feedbacks contínuos, criação de programas de mentoria e oportunidades de aprendizado prático podem contribuir para reduzir o desalinhamento entre as expectativas dos jovens e as práticas corporativas.
À medida que a Geração Z se consolida no mercado, o sucesso das empresas dependerá de sua capacidade de atrair, reter e desenvolver esses talentos, aproveitando o que eles têm de mais inovador e adaptando as práticas organizacionais para um novo contexto. O investimento em estratégias de integração pode beneficiar tanto as empresas quanto os jovens profissionais, criando um mercado de trabalho mais dinâmico e alinhado às necessidades de uma nova geração de trabalhadores.